quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sobre o papel do Estado

A discussão sobre o papel que o Estado deve ter na vida das pessoas é antigo, mas sempre muito atual. Diante de sociedades tão distintas, não chegamos ainda, e provavelmente nunca chegaremos, a uma fórmula perfeita e definitiva e sabemos bem que o debate costuma ser dominado por visões ideológicas e circunstanciais.
Com certo grau de certeza, no entanto, duas afirmações podem ser feitas. A primeira delas é que já descartamos empiricamente os extremos. A presença sufocante do Estado não nos interessa, assim como sua total ausência nos leva a um caos intolerável. Como consequência disso, chegamos à segunda constatação: o Estado precisa existir em grau e dimensão adequado, cumprindo as funções de regular, criando regras a fim de garantir um convívio pacífico, respeitoso e justo nas oportunidades oferecidas a todos. 
Entre esses dois lados, no entanto, existe um mar cinzento sobre o qual precisamos sempre refletir a respeito e navegar com cautela. Entretanto, a grande questão, para a qual buscamos sempre uma resposta é identificar até onde vai, afinal, a prerrogativa estatal de regulamentar e, em última instância, limitar a liberdade das pessoas e empresas na esfera social e econômica? 
Se os governos estão ai para criar regras de condutas e convívio, existem obviamente para criar limites. Isso é natural e totalmente compreensível. Minha liberdade termina onde começa a dos outros, como observa o dito popular. Mas quais são esses limites? Pode, o Estado, querer regulamentar tudo? Já sabemos que não. 
Os constantes debates em torno da indústria da cerveja caem como uma luva para exemplificar essa questão. Existem limites claros em torno do tema, apoiados inclusive por nós, que fazemos parte desta indústria. Nós defendemos um consumo responsável de nossos produtos, pois sabemos que o consumo indevido de nossos produtos não é saudável, muito menos sustentável a longo prazo. Dedicamos tempo e recursos para criar campanhas educativas, desenvolver pesquisas, apoiar iniciativas da sociedade civil organizada, sempre com o objetivo final de garantir ao nosso consumidor a melhor relação possível com nosso produto, que é, por sinal, apreciado há muito mais tempo do que o debate em torno do papel do Estado nas sociedades. 
 Por existir a possibilidade de um consumo abusivo, o álcool está sempre no olho do furacão. Sabemos da importância de sua regulamentação equilibrada, que nunca pode ultrapassar a barreira do razoável. Concordamos, por exemplo, que é correta a opção do legislador nacional de proibir a junção entre álcool e direção. Não só apoiamos, como ativamente procuramos modificar atitudes e criar alternativas para garantir que aqueles que dirijam não bebam e aqueles que bebem não se sintam aptos a sentar no banco do motorista. 
Também são corretas as legislações que proibem e punem aqueles que vendem bebidas alcoólicas para menores de idade. Esta norma é reiterada em nossa legislação, e dela faz parte desde 1941. Sempre teve o total apoio da indústria que, do mesmo modo faz campanhas, pesquisas e apoia iniciativas para que seja respeitada.
Compreendemos, no entanto, que o papel do Estado - enquanto regulador, se encerra por ai. Sua análise objetiva já está posta e o limite imposto. 
No caso de álcool e direção, por exemplo, a legislação atual inviabiliza qualquer consumo alcóolico por quem dirige um automóvel. Mais do que isso, entende como criminoso aquele que passa de um limite mínimo, o menor em todo o planeta !
Há quem critique esse rigor. Tanto por falta de razoabilidade, como por impossibilitar, na prática, a punição dos motoristas. Afinal de contas, ao estipular uma quantidade mínima e numérica, o Brasil se viu diante de uma série de decisões judiciais, nos mais diversos Tribunais de Justiça do país, que reconheciam o direito de cidadãos de recusarem a realização do teste do bafômetro como forma de não gerar provas contra si mesmos. 
Mas, independente disso, trata-se de uma prerrogativa do Estado estabelecer tais limites, e isso é completamente aceitável. Por mais equivocada que possa ser uma política pública, ela não pode ser condenada pelo simples fato de existir. 
O problema é outro. Grave é quando o Poder Público passa a tentar ir além, agindo como uma verdadeira babá da sociedade. Muito preocupante é quando esse Estado, seja ele o Executivo, Legislativo ou Judiciário, não confia, a priori, no bom senso social e passa a tentar regulamentar condutas, levando em conta argumentos que não se aplicam à maioria da população, interferindo diretamente em princípios constitucionais que afetam a liberdade de escolha e a economia nacional. 
Chegamos, então, no ponto principal. O limite do Estado é exatamente a fronteira entre a regulamentação objetiva, calcada em regras que visam coibir condutas generalizadas, daquela subjetiva, cujo resultado afetará certos setores, mas que não conseguirá enfrentar o problema de frente. Falamos aqui de normas ineficazes, que não enfrentam o problema real, afetam a atividade econômica, diminuem a oferta de empregos, atrapalham o desenvolvimento econômico, simplesmente porque alguém "acha" que a medida é boa, sem estudos com base em fatos e dados.  
Ao proibir que um motorista beba, ou que o menor consuma bebidas alcoólicas, o Estado cumpre uma função de evitar uma conduta abusiva, o que é o seu papel. É diferente, no entanto, de não permitir a venda de bebidas alcóolicas em certos estabelecimentos em detrimento de outros. 
Surgem atualmente propostas para proibir a venda de bebidas em postos de gasolina. À primeira vista, pode parecer uma proposta sensata. Para o senso comum, poderá fazer todo o sentido, afinal de contas, quem vai ao posto de gasolina está de carro e não pode beber. Se não pode beber, não pode comprar bebida com álcool.  
Nada mais falso e desprovido de qualquer estudo elaborado com base técnica. 
Antes de responder essa pergunta, no entanto, mais algumas observações. Será que é só no posto de gasolina que se vai de carro comprar bebida? Quer dizer que ir ao super mercado, à padaria, ao bar, à festa, ao restaurante, à casa do amigo, sempre de carro e comprar bebida alcoólica pode, mas ir ao posto de gasolina, não. Fora questões alheias à discussões teóricas, existem muitas cidades brasileiras cujo comércio, muitas vezes, se resume a uma loja de conveniência de um posto de gasolina.
Mas será mesmo que o efeito que se obtém disso é a redução do consumo de álcool indevido de bebidas alcoólicas, seja aquele ligado à direção ou ao consumo por menores de idade?
O que não se percebe é alguma evidência que não seja a de que a proibição da compra inibe o ato comercial, mas não chega nem perto de tocar na questão do consumo indevido. 
Se a ideia é proibir a compra e venda de álcool, então será necessário mudar o paradigma mundial atual e proibir a comercialização do produto em todos os estabelecimentos. Acredito que a ideia não é essa e nem teria apoio dos legisladores nos países ocidentais. 
Como não é, não faz sentido, portanto, proibir a venda de bebidas em postos de gasolina ou qualquer outro lugar.
O Estado tem, sim um outro papel, previsto em nossa Constituição, que é o de exercer o monopólio da força para reprimir e desestimular condutas ilegais na sociedade.
A sociedade civil e os empresários, particularmente, tem atuado no sentido de fortalecer este importante capítulo das funções que cabem ao Estado. A indústria de bebidas e a de combustíveis, por exemplo, são pródigas em propor e levar adiante parcerias com organismos do  setor público. Desde a fiscalização para evitar o descumprimento das regras de funcionamento dos setores até o trabalho árduo para evitar a sonegação e a elisão fiscal.

(*) Artigo escrito para o Relatório Anual do Sinducom 2013/2014


O Departamento de Projetos de IPS nos Anos 90

Conheci Roberto Sávio em 1985, em Brasília, em um almoço oferecido pelo jornalista Guy de Almeida, em sua casa, em um sábado ensolarado de maio. Guy, à época, era o Chefe da Casa Civil do Governo do Distrito Federal, no início da Nova República, durante os primeiros anos da redemocratização do Brasil, após duas décadas de ditadura militar.
Guy de Almeida havia sido jornalista da Inter Press Service (IPS) em Lima, Peru, no período em que foi exilado político, consequência de sua participação na luta pela democracia.
Sávio encantou a todos com sua visão de mundo, sua luta por uma nova ordem informativa e seu conhecimento da situação política de cada região e detalhes de cada país, com pitorescas observações sobre os líderes mundiais. Preocupava-se com a situação da África, relegada ao esquecimento da comunidade internacional e com a América Latina, cada vez mais fora do centro político.
Sávio formulava e defendia com ardor as posições do terceiro-mundismo, linha política muito próxima dos grupos mais à esquerda do cenário político brasileiro e mostrava o papel que IPS cumpria. Fora IPS a primeira agência a distribuir na Europa um texto escrito na América Latina, sobre a realidade deste continente. 
A agência se propunha e dava voz aos países do hemisfério sul e dentro desses aos grupos sociais não hegemônicos.
O Brasil seguia aprofundando seu processo democrático, com a primeira eleição direta para a Presidência da República, em 1989. Os grupos que haviam militado na luta democrática dividiram-se entre 4 candidaturas e foram superadas pelo governador Collor de Mello, líder de um pequeno estado do nordeste brasileiro.
Apoiei e trabalhei pelo Dep. Ulysses Guimarães, então presidente do maior partido de oposição aos militares e que havia liderado a Assembleia Nacional Constituinte. Ulysses teve uma votação pequena e voltou ao cenário político como um dos líderes da oposição, ao lado de Lula, Brizola e Mario Covas, também derrotados.
No carnaval de 1991 recebo um telefonema de Guy de Almeida, nesta época, Diretor Geral do Technological Information Pilot System (TIPS), em Roma. O TIPS é um projeto idealizado por Roberto Sávio, financiado pelo PNUD, que buscava favorecer a transferência tecnológica para empresas localizadas nos países do terceiro-mundo, notadamente as pequenas e médias organizações.
Clélia e Guy de Almeida acabavam de ganhar sua primeira neta e desejavam retornar para a cidade de Belo Horizonte, próximos dos filhos. Para quem já havia sido exilado político e sofrido as agruras da saudade, este era um desejo mais do que natural. Guy buscava um sucessor na direção do TIPS  e perguntava de meu interesse.
Para mim e Graça, minha esposa, e para nossos pequenos filhos, era a oportunidade única de unir três grandes vontades: trabalhar em um processo movido por uma grande ideia, ser liderado por um grupo de pessoas excepcionais e viver na Itália, dando um tempo ao Brasil de Collor de Mello.
O processo de seleção acabou sendo mais complexo, pois a IPS aproveitou a oportunidade para recrutar um Diretor para seu Departamento de Projetos, profissionais com qualificações semelhantes.
A mim foi oferecido a oportunidade de dirigir o Departamento de Projetos da agência de notícias Inter Press Service, com sede na Via Panisperna, bem na frente do local onde os jovens físicos italianos colaboraram com Enrico Fermi para a descoberta dos néutros lentos que permitiu a construção dos primeiros reatores atômicos e da bomba.
IPS era uma espécie de anti-bomba do bem, a favor da paz, da inclusão social e da solidariedade humana.
Eu estava definitivamente no lugar certo.
O Departamento de Projetos era uma estrutura pequena, responsável por usar a agência de notícias para desenvolver projetos de comunicação social de interesse de organismos  internacionais, governos nacionais e organizações não governamentais.
Esses projetos buscavam estabelecer fluxos informativos, de dupla mão, entre grupos sociais com pouco interesse dos veículos da grande imprensa e tratavam de temas globais, que igualmente atraíam pouco o jornalismo tradicional. Os projetos de IPS propiciam canais de relacionamentos entre o grupos do hemisfério sul e treinam pessoas para se comunicar melhor.
Na prática, o Departamento de Projetos levantava recursos para que a IPS fizesse a sua particular subversão à ordem informativa tradicional, caminhando ao contrário dos que majoritariamente falam do norte para o sul e dão voz a quem já a tem de sobra, os setores mais poderosos da sociedade.
O Departamento de Projetos, no início dos anos 90, era formado por um grupo multinacional bem interessante. Jacqueline XXXXX, uma jovem senhora hindu, Daniela Vetter, jovem chilena que viveu sua infância e adolescência na Alemanha e eu, brasileiro. Tínhamos um trabalho articulado tanto com o Diretor de Planejamento da IPS, o britânico Vic Suttom como com o Diretor de Relacionamento com a Sociedade Civil, o holandês-brasileiro John Schlanger.  
Nesta época, a agência trabalhou em várias dezenas de projetos, em todos os continentes, acompanhando os temas de interesse global como infância, meio-ambiente, direitos humanos, população, cultura e desenvolvimento econômico dos países do sul.
Iniciamos a cobrir as grandes conferências internacionais organizadas pela ONU e que definiram os limites da cooperação internacional dos anos seguintes.
O jornal Terra Viva e o projeto que daí decorreu nasceu às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) realizado no Rio de Janeiro entre 3 e 14 de junho de 1992, conhecida como o The Earth Summit.
Este foi o projeto mais ousado que fizemos. Tinha como objetivo cobrir diariamente a grande conferência global sobre o meio ambiente e desenvolvimento e o resultado foi um sucesso e fez história.
O Terra Viva foi publicado no Rio de Janeiro, em duas edições diárias, uma em inglês e outra em espanhol. Com recursos levantados das agências da ONU, da Comunidade Europeia e de alguns países que compunham o grupo de amigos de IPS a agência levou para o Brasil um grupo multinacional de jornalistas que foi capaz de cobrir, editar e distribuir as edições do jornal diário durante os 12 dias da conferência da UNCED.
Depois desta experiência e com a coragem de quem passou por cima de enormes dificuldades para publicar Terra Viva no Brasil, repetimos o projeto nas conferencias sobre Direitos Humanos, em Viena, sobre População, no Cairo, sobre Mulheres, em Pequim e sobre Mulheres na Agricultura, em Roma.
Minha participação no dia a dia da IPS teve o seu auge no Rio de Janeiro, durante a publicação de Terra Viva e também foi o início de minha volta para o Brasil.
No dia que chegamos no Rio de Janeiro com a equipe de IPS, no último domingo de maio de 1992, a Revista Veja publicava uma matéria de capa com Pedro Collor denunciando o seu irmão, presidente do Brasil, por crime de corrupção. Esta matéria dava início a um processo político que terminaria em 29 de dezembro de 1992 com o impeachment de Collor e o início do governo do Presidente Itamar Franco.
Do novo governo participavam vários bons amigos que insistiam em me convidar para a experiência de construir, enfim, o país pelo qual tanto lutamos.
Eu saí do dia a dia de IPS em julho de 1993 mas IPS nunca mais saiu de mim e nem sairá.
Depois disto, participei de um projeto da agência no Brasil, junto ao PNUD e com Roberto Sávio e Mário Lubetkin do processo de sucessão do Diretor Geral de IPS, quando Roberto transformou-se em nosso Presidente Eméritus e Mário em Diretor Geral.
Meu ciclo em IPS completou-se quando, alguns anos depois, meu filho Felipe Seligman, após laurear-se como jornalista, fez um estágio no escritório de IPS em New York, coordenado pelo chefe do escritório o grande jornalista Thalif Deen. Seguindo uma velha tradição indígena, o pai só completa sua tarefa quando ensina o ofício a seu filho. Ensinar eu não poderia, mas mostrar-lhe o caminho ipsico eu fiz.

 (*) Artigo publicado no livro "Os jornalistas que reviraram o mundo"



A tragédia foi na minha casa

A tragédia foi na minha casa. No lugar onde vivi e passei a maior parte de minha juventude.  Pior. Fomos nós, eu e minha turma de amigos que fomos atingidos, alcançados com 40 anos de atraso. Minha identidade com as vítimas é absoluta.
Na Rua dos Andradas, do lado de lá da Avenida Rio Branco, onde houve a tragédia, ficava a revenda Brahma do seu Ives, pai do Beto, meu colega de aula.
Em frente ao local do incêndio, onde a televisão mostrava um supermercado, ficava o Ginásio Hugo Taylor, no prédio que outrora foi a Escola de Artes e Ofícios da Associação dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Lá eu fui escoteiro, liderado pelo Irmão Luiz, que me ensinou a ser solidário e olhar para a natureza com respeito e atenção.
Pouco acima, uma quadra se tanto, ficava o Moby Dick, o bar onde algum tempo depois nos encontrávamos para derrubar a ditadura, construir um mundo novo e amar, amar muito, nós que nos amávamos tanto!
Santa Maria, minha querida cidade, sempre foi motivo de um sincero, profundo e verdadeiro orgulho.
Cidade repleta de jovens, primeira universidade federal fora de uma capital, vários centros de ensino, formadora de gente boa e solidária, usina de sonhos e vontade de mudar para melhor a nossa sociedade e o nosso Brasil.
Desde sábado o Brasil não para de falar de Santa Maria, mas para isso foi preciso que centenas de jovens fossem tragicamente mortos.
Mortos, na minha casa!
Estou profundamente triste, abatido e comovido, a melhor palavra que me ocorre para contrapor ao orgulho que sempre tive.
Não consigo e não quero entrar no jogo de procurar culpados e responsáveis. Não quero respostas fáceis, definitivas e provavelmente erradas. Agora é hora de nos fazermos perguntas.
Os fatos da semana seguinte ao horror mostram que a tragédia do último sábado de janeiro poderia ter ocorrido em qualquer dia, em qualquer cidade e em quase todos os lugares onde a juventude se diverte.
 Os locais que fecharam por luto, em todo o Brasil, homenagearam as vítimas, mas também buscaram tempo para corrigir problemas, pois finalmente serão fiscalizados.
Porque não foram fiscalizados antes e com grande rigor? Porque nada é fiscalizado com rigor? Porque não gostamos de rigor?
Será que o hedonismo é o valor absoluto de nossa sociedade?
Será que os direitos da pessoa humana, pelo qual tantos lutaram, estão resumidos a um único artigo: eu mereço. E com um parágrafo único: revogam-se disposições em contrário.
Será que o poder público e o interesse privado se irmanaram para atender a esse direito único e fazem tábula rasa dos rigores no cumprimento de suas obrigações? Será que todos acreditam que tais rigores são indesejáveis e caretas, e certamente impostos pelos que querem estragar a festa?
Temo que a maioria não aprecie um poder público rigoroso, mas por outro lado, e contraditoriamente confia muito, e até demais, no resultado de sua atuação.
Penso, com triste ironia, em perguntas que provavelmente seriam feitas se essa tragédia tivesse sido evitada pela proibição das causas mais aparentes.
Fechar o local onde nos divertimos, depois de ralar tanto? Proibir o uso de efeitos pirotécnicos, em um ambiente fechado, que tornará o evento ainda mais top? Limitar o número de frequentadores na capacidade máxima vai atrapalhar e a festa não vai bombar?
Quem defenderia, na prática, essas atitudes? Um fiscal da prefeitura? Um bombeiro da Brigada Militar? Será que delegamos a segurança de nossos jovens a esses profissionais? Temos tanta confiança neles que nem queremos saber se estão fazendo a coisa certa?
Não há razão para supor que os lugares de diversão pública sejam seguros. Poucos perguntam se os serviços de fiscalização que devem ser feitos estejam sendo prestados.
Não sei quais foram os responsáveis pela tragédia que enlutou famílias de inúmeros conhecidos nossos e toda a gente de minha querida Santa Maria.
Tenho uma filha que gosta de balada e a frequenta com seu namorado. Eu nunca perguntei para eles sobre segurança. Quando em Santa Maria, no último dezembro, semanas antes da tragédia eles programaram ir se divertir na Kiss.  Normal, perfeitamente normal.
Como Ernest Hemingway eu sei por quem os sinos dobram, é por todos nós. Somos ao mesmo tempo vítimas e um pouco responsáveis pela desgraça e o horror que se abateu sobre esses meninos e meninas e suas famílias.
Temos que responder a essas perguntas e mudar de atitude para que a morte deles não tenha sido em vão.


(*) Escrito na semana da trajédia da Boite Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul

A Sociedade

A mais importante decisão de um empreendedor é a formação da sociedade. 
Quem são as pessoas que eu quero que viajem comigo nesta 'nave' que decola sem certeza nenhuma, mas "grávida de esperança"?
Esta é a questão mais importante que um empreendedor deve se colocar, pois a nave tem uma trajetória complicada e imprecisa e "failure is not an option".
Quem são os sócios ideais é uma pergunta sem resposta tecnicamente precisa.
Entretanto, algumas ideias do que buscar e do que evitar, podem ser alinhadas. 
Vou dizer o que eu acredito e já vi funcionar.
Sócios devem compartilhar o desejo de estabelecer e manter uma administração com veleidades de perfeição para a Companhia que é de todos.
Mas o que é administrar? Entendo que é o ato de gerenciar negócios, pessoas e recursos com o objetivo de alcançar resultados bem definidos, preferencialmente numericamente definidos.
Uma ideia importante sobre gestão é que não de gerencia o que não se mede; não se mede o que não de define; e não se define o que não se conhece ou entende.
Como entender um empreendimento e poder saber qual o porto de chegada, para fugir da terrível constatação de Sêneca "não existe vento favorável para o marinheiro que não sabe onde ir"?
Para mim e devo dizer que aprendi isto com o Jim Collins, uma empresa feita para durar é aquela composta de pessoas disciplinadas, que tem um pensamento disciplinado e que age de maneira disciplinada.
Nós que queríamos mudar o mundo agora temos que ser disciplinados? Sim, se quisermos mudar o mundo.
O que seriam pessoas disciplinadas? São aqueles que cumprem o seu papel e participam das atividades do grupo de maneira cooperativa. Na empresa a competição é com o concorrente. Dentro da casa é cooperação organizada, dentro de um ambiente tenso. Sim, tenso como o de um desportista competindo.
Há dois papeis claros na companhia: os líderes e os que fazem parte do time. 
Um líder é aquele que leva o seu time ao resultado pretendido, fazendo as coisas do modo certo. Não tem nada a ver com messianismo, falar bonito ou influenciar pessoas. Tem a ver com time e  resultado.
Modo certo pode ter várias e diversas interpretações. Logo é uma afirmação vaga e portanto inútil.
Para evitar uma grande e infindável discussão, vamos combinar que 'do modo certo' é aquilo que você pode contar no almoço de domingo na frente de seus pais, sua ou seu companheiro e seus filhos, ficando orgulhoso do que está fazendo.
Um time disciplinado é formado por pessoas comprometidas com o projeto e que sintam-se dona dele. Escolham primeiro as pessoas, com este princípio, depois decidam o que cada um vai fazer e jamais o contrario.
Este grupo deve ter um pensamento disciplinado que pode ser medido por dois conceitos.
O primeiro deles é buscar fazer atividades na intersecção de três conjuntos: o conjunto das coisas que o grupo adora fazer, o conjunto daquilo que o grupo faz muito bem e, finalmente, o conjunto das atividades que dão retorno econômico. Os sócios tem o dever de zelar para que seja mesmo na intersecção desses três conjuntos, sem fantasia.
O segundo e importante conceito é o de 'face the brutal facts'.
É muito difícil assumir que as coisas não estão no caminho correto e a coragem para mudar de rumo é bastante rara. Isto é de uma importância fundamental, pois o começo da solução de um problema é admitir que ele existe.
Ação disciplinada é decorrência, mas tem muita técnica para garantir isto. 
Transformar todos os problemas em um PDCA (planejar correção, desenvolver solução, controlar e atualizar) e posteriormente identificar o processo produtivo e colocá-lo em uma rotina que poderá ser controlada por um SDCA (padrão, verificação, correção, atualização).
Sócios tem que ser complementares e não é mal que divirjam muito na defesa de seus pontos de vista.
O essencial é que as brigas sejam confinadas ao ambiente de discussão e finalmente deliberadas, seja pelo convencimento ou por uma arbitragem.
Terminado a reunião os problemas entre os sócios não pode ir para casa e nem para a rua, pois isto e péssimo para o negócio, dados que os sócios são os líderes que devem levar a companha para o resultado esperado.
Como nem sempre isto é possível, tem que haver um CEO, designado pelos sócios e um chefe do conselho de acionistas que organiza as reuniões desse 'deliberativo'.
Uma empresa não é um ambiente democrático. É um ambiente meritocrático.
Aí, se todos estiverem alinhados, o empreendimento pode ter nascido para durar e fazer sucesso.



Israel e um judeu

O sociólogo Cesar Benjamim escreveu um artigo propondo o fim do Estado de Israel e considerando um erro sua criação pelas Nações Unidas.
Uma amiga pediu minha opinião sobre o artogo.
Abaixo minha resposta.
Querida amiga, tudo bem?
Discordo totalmente do Cesar Benjamin, neste caso.
Dois textos, recentes, podem ajudar a refletir um pouco mais sobre o assunto.
O primeiro é do Floriano Pesaro, sociólogo, vereador pelo PSDB de SP e candidato a Deputado Federal.
É o seguinte:

Israel x Hamas
Não podemos ficar calados diante de uma tendenciosidade em se alardear notícias contra o Estado de Israel.
Estamos fartos.
Desde Junho, podemos enumerar alguns fatos:
Fato - O Hamas é uma organização terrorista que preconiza em seus estatutos a aniquilação do Estado de Israel.
Fato - Foram sequestrados e mortos 03 jovens civis israelenses.
Fato - Os responsáveis não foram presos ou punidos.
Fato - Marginais judeus assassinaram um jovem árabe.
Fato - Imediatamente o governo israelense apurou, prendeu e punirá adequadamente os responsáveis por tal ato hediondo.
Fato – Desde o início de Junho, mais de 1000 foguetes já foram disparados contra as cidades israelenses e seus cidadãos vivem em constante estado de medo, tendo apenas segundos para correr aos abrigos antibomba.
Fato - O Hamas coloca seus pontos de lançamento de foguetes junto a escolas, mesquitas e zonas povoadas, usando a possibilidade de fatalidades civis como propaganda política a seu favor.
Fato - Israel realiza ataques cirúrgicos em alvos determinados, buscando minimizar as perdas humanas e até lançando avisos aéreos pedindo à população que se afaste dos pontos de lançamento de foguetes.
Esta é A REALIDADE. Não são opiniões, são dados irrefutáveis.
Entretanto, para nossa tristeza, deparamo-nos cotidianamente com notícias que demonizam Israel, sem uma análise no mínimo isenta da situação.
Eu, que defendo a paz, que defendo dois estados e o bem estar do povo palestino, sei que há muito a se fazer, mas não consigo digerir essa má vontade.
Como bem disse Caio Blinder: “A Desaprovação global de Israel é sempre desproporcional, em um cenário do qual constam um esquerdismo chulé e antissemitismo”.
Seria bom que nossa imprensa fosse mais imparcial.
Floriano Pesaro
Sociólogo e Vereador

Reconheço que o artigo do Floriano está mais para responder ao recente conflito do que ao conjunto das ações de Israel ao longo de sua curta existência, como se refere o Cesar Benjamin.
Para isto tem um texto interessante de um asiático que não sei o nome, veja:
  
Over the past 50+ years, around 10,000,000 Muslims have died in violent conflict. Of this number, over 90% were killed by Muslims themselves, in a Shia vs Sunni conflicts . Of the rest, over 90% were killed by non-Muslims, defending themselves against Muslim attackers.
During this same period, something like 50,000 have died in the Arab-Israeli conflict. 1/3 of them where Jews and 2/3 were Arabs (Muslim & Christian). 90% of these Arabs were not Palestinians but Egyptian and Syrian soldiers died in 1948/67/73 wars.
In September of 1970, around 20,000 Palestinians were killed by the entirely Muslim Royal Jordanian Army. Many times more than all the Palestinians killed by Israel since 1948.
There wasn't a single Arab who protested on that war crime. 
Yet, If Israel kills a terrorist, the Arab world yells and cries.
I'm not saying Israel is a pure angel, however, in the Middle East, the safest country for any Muslim to live in is Israel.
The most dangerous country for any Muslim to live in is a Muslim majority country.
The greatest enemy of Muslims is not America or Israel, it is Islam itself, as it teaches not to accept others' beliefs.
Can you explain me the killing of 200,000 Syrian civilians in the last 3 years?
Can you explain me the killing of 100,000 men, women and children in Algeria, using the most abominable killing methods?
Can you explain me the terror attack 3 years ago on the peaceful village of Al-Kisheh in upper Egypt, killing 21 Coptic peasants? 
Can you explain me the 5,000 Shia muslims that died just in the last week in Iraq by ISIS?
Can you explain me the killing of 43 Christians in Nigeria by Boko Haram and the kidnapping of 276 school girls?
Can you explain this killing phenomena that took place in the Muslim world?
Is it all a revenge against America? Is it all a Revenge against Israel?
Or is it to merely to satisfy barbaric religious instincts, aroused by religious Islamic teaching, which incite the rejection of others, the killing of others and the denial of others?
In Muslim countries, religion is the main source of education.
When you educate a child in his early years to learn the words of Muhammad, the prophet of Islam, which says: "I was ordered to fight the people until they believe in Allah and his Messenger", you made the first step of making this child a future terrorist.
Islamic teaching are playing a role to create these terrorists who killed all the people I mentioned. 
This is not Israel who kills Muslims around the middle east. It is Islam.
It is not the terrorists who distorted Islam, it is Islam who distorted the terrorists.
When Saddam Hussein buried 300,000 Kurds and Shia Muslims alive, we did not hear a single Muslim protest against that crime.
Yet, when, defending itself,  Israel enter Gaza and kills 1000 Palestinians, most of them armed Hamas terrorists, the Arab world cries.
Isn't your hypocrisy serves the continuing of Muslims getting killed around the middle east?
There will be no peace in the middle east, not between Jews and Muslims and not between Muslims themselves, until the Muslims re-examine their Islamic books which are full of calls to "takfir" and insulting other religions.
When it will happen, the world will respect the Muslims as it respects the Jews.

Bem, a minha opinião pode ser deduzida de uma piada clássica, bem ao nosso estilo judeu:

Dizem que, quando Joseph Mengele chegou ao Inferno, foi imediatamente procurar seu chefe. 
Hitler estava curiosíssimo sobre os acontecimentos na Terra. 
E Mengele foi direto: Chefe, o mundo está virado. 
Os alemães estão ganhando dinheiro e os judeus estão fazendo guerra. 
Os judeus, já foram atacados pela incapacidade de resistir aos seus inimigos. 
Eram covardes, gente sem brio, servis e submissos. 
Agora são atacados pela capacidade de resistir aos seus inimigos. 
São violentos, prepotentes, sanguinários. 
Na verdade, para o anti-semita tanto faz o judeu ser indefeso ou guerreiro: ele não é criticado pelo adjetivo, mas pelo substantivo. 
É judeu, e pronto. 

Em resumo, minha amiga, a existência do Estado de Israel não foi um oportunismo por causa de Hitler, como se refere Cesar Benjamin, mas foi a resposta do mundo para o fenômeno do anti-semitismo que, independente de explicação parece ter existido desde sempre, em maior ou menos escala.
Para mitigar seus efeitos, impactados pelo assassinato em massa de 6 milhões de judeus,  foi criado, pelas Nações vencedoras da Segunda Guerra, um Estado que serviria para receber aqueles que fossem indesejados ou até expulsos de seus países, como sempre ocorreu ao longo da história.
A existência de Israel, com seus pouco mais de 66 anos de existência (!), já mudou um pouco o cenário, mesmo que o Estado tenha vivido sempre em guerra, desde o dia 1 de sua existência. Nunca esqueça que menos de 6 horas depois de declado Estado independente Israel foi atacado por todos os seus vizinhos, na conhecida Guerra da Independência.
Por sinal, vem bem daí o poderio militar das IDF (Israel Defense Force, este é o nome). 
Enfim, vivemos em um País sem nenhuma forma de anti-semitismo, graças a Deus, e isto pode nos nublar a visão.
Não a mim, entretanto.
Um beijo